
Há um tempo atrás li um livro, muito bom por sinal, sobre empreendedorismo – Vai lá e faz: como empreender na era digital e tirar ideias do papel, de Tiago Mattos – e nele o autor fazia essa analogia entre ser vara ou ser rede.
Vamos para o contexto. O capítulo do livro tratava das diferenças existentes entre os empreendedores e os não empreendedores. Segundo o autor, existem algumas diferenças, ainda na infância, entre pessoas com características empreendedoras e aquelas sem um pingo de empreendedorismo na veia. Nada contra quem gosta e prefere a segurança (?) de uma carreira de 30 anos em uma empresa, mas convenhamos - algumas habilidades adquiridas na vida facilitam, e muito, nossa jornada. A maioria dessas habilidades os empreendedores possuem.
Uma constatação do autor:
“EMPREENDEDORES RECEBERAM DOS PAIS UMA MENSAGEM SOBRE SEGURANÇA DIFERENTE (E QUE NÃO É COMUM PARA A MAIORIA).”
Quem já viu um espetáculo circense com certeza lembra do show do equilibrista: ele caminhando sobre um fio de aço lá no alto, tambores rufando e muita tensão em quem assiste. Ele não pode cair. Para ajudar no equilíbrio, ele usa uma vara longa, que mantém o centro de gravidade próximo ao fio cada vez que o corpo dele tende a pender para um lado ou outro.
Abaixo dele muitas vezes tem uma rede de proteção. Ninguém torce para o equilibrista cair (assim espero), porém toda precaução é bem-vinda. Caso o pior ocorra, nosso artista estará a salvo.
Pois bem, a educação que os pais dão aos filhos pode ser metaforicamente comparada ao equilibrista. Queremos que nossos filhos atravessem o fio de aço em segurança, mas alguns pais dão a vara, outros, a rede. Pensando nisso, podemos identificar algumas situações:
1. Quando os pais são superprotetores
Nesse caso, não tem vara nem rede. Eles simplesmente desencorajam o filho a atravessar o fio. “Você pode cair”, “não faz isso que você vai se arrepender”.
2. Quando os pais são indiferentes
São aqueles que dão a vara e falam: “se vira, estou fazendo a minha parte”. Se o filho quiser arriscar, que arrisque, mas ele que arque com as consequências. Aqui não há segurança e ainda há o risco de uma ameaça e torcidas contra. “Vai lá, faz. Mas se der errado a culpa é sua, não pensa que te avisei.”
Essas duas situações são incapacitantes. Desencorajam a criança ou o jovem a arriscar. Tiram sua autonomia e detonam a autoestima.
Agora, ainda tem outro tipo (raro) de pais:
3. Os pais encorajadores
São aqueles que decidiram ser a rede. Eles incentivam o filho a caminhar pelo fio de aço e falam: “vai lá e dê o seu melhor, mas se algo der errado estarei aqui para te ajudar”.
Pais encorajadores são um estímulo à liberdade, à criatividade e ao amor-próprio. Não interessa a classe social, pessoas que se estruturaram bem na vida, sejam eles empresários, artistas, cientistas ou o que for, na sua grande maioria receberam algum tipo de rede de suporte. De apoio. De incentivo ao risco e ao erro. Lembrando que o risco dos empreendedores é controlado e não inconsequente, ok?
Agora pare um pouco e pense em qual tipo de apoio você teve na infância. A sua educação foi empreendedora, superprotetora ou ameaçadora? Qual impacto que isso teve na sua vida?
Reflita como a educação que você teve na sua infância reverbera na educação que você oferece a seus filhos. Você transfere seus medos a eles, seja superprotegendo ou desestimulando? Ou você é a rede de apoio, dando segurança para que eles possam se desenvolver com maior liberdade?
O que você prefere ser: vara ou rede?